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Da garagem para o Palácio Real

Uma história sobre a globalização do Jiu-Jitsu


Em abril de 2023, comemoramos o Mês do Legado. Queríamos compartilhar uma história interessante de um dos ganhadores do Legacy Hall Award.


O Mestre Nelson Monteiro é um dos pioneiros no processo de globalização do Jiu-Jitsu. Ele treina há 41 anos e viu o esporte mudar drasticamente nesse período. O Mestre Nelson conquistou a faixa-preta em 1989 no Brasil e recebeu a faixa-coral em 2019 das mãos do Mestre Carlos Gracie Jr., em Del Mar, CA (EUA), durante a segunda Gracie Barra World Summit. Sua constante busca pelo autodesenvolvimento, bem como a dedicação ao estilo de vida do Jiu-Jitsu e à Gracie Barra são fascinantes e explicam sua premiação no Legacy Award anos atrás.


O início

O Mestre Nelson começou a praticar Jiu-Jitsu no Rio de Janeiro com o Mestre Carlos Gracie Jr. anos antes da criação da Gracie Barra. Com a inauguração da primeira GB em 1986 na Barra da Tijuca, ele passou a frequentá-la e seguiu treinando por lá até 1989, quando se formou na universidade aos 23 anos.


Após se formar, o Mestre Nelson se mudou para Encinitas, na Califórnia, e já estava tão apaixonado pelo Jiu-Jitsu, que decidiu seguir treinando e ensinar a arte por lá. Então, ele abriu a primeira escola na garagem de casa, em 1990, batizando-a com o seu nome.


Cerca de um ano depois, representantes do município bateram em sua porta por conta de reclamações dos vizinhos sobre a quantidade de carros que circulavam no local, dando a ele 30 dias para encerrar as atividades.


Assim, em 1991, o Mestre Nelson encontrou um novo endereço para a sua escola, na cidade de Del Mar, CA. Ele lembra que foi um período difícil, pois ninguém sabia direito o que era Jiu-Jitsu naquela época. Por isso, conseguir alunos não era tão fácil como hoje.


Um aluno que mudou os rumos do esporte

Em 1993, Royce Gracie se tornava uma estrela no primeiro UFC. Com isso, de repente, as coisas ficaram um pouco mais fáceis para a escola do Mestre Nelson, com as pessoas começando a se interessar pelo Jiu-Jitsu graças a esse sucesso no cenário mundial.


Então, um novo aluno chamado Ben chegou à escola do Mestre Nelson, atraído pelo interesse nas lutas do UFC. Ele era um universitário próximo de concluir seus estudos, e treinou lá por mais de um ano. Certo dia, o Mestre Nelson foi almoçar com seu aluno Ben e tomou conhecimento de uma história que mudaria os rumos do Jiu-Jitsu esportivo.


Ben revelou que, na verdade, era o Sheik Tahnoon Bin Zayed Al Naya, filho do presidente dos Emirados Árabes Unidos. Sheik Tahnoon disse que queria continuar treinando e pediu ao Mestre Nelson para que fosse ao seu país ajudá-lo, sugerindo a ele que montasse uma proposta de acordo comercial e visitasse os EAU.


Após sua visita a Abu Dhabi, o Mestre Nelson decidiu que se mudaria para lá e daria continuidade ao treinamento do Sheik Tahnoon. Ele deixou seus alunos dos EUA em boas mãos e foi para os Emirados Árabes descobrir onde essa aventura poderia levá-lo.


Seus dias nos Emirados Árabes Unidos

O Mestre Nelson continuou treinando o Sheik Tahnoon no Palácio Real de Abu Dhabi. Graças ao grande interesse do Sheik pelo MMA, ele e Nelson trabalharam juntos em uma produção do ramo em 1997 para o Pentagon Combat, que incluía grandes nomes do esporte na época. O evento ocorreu no Brasil e teve forte impacto, com uma repercussão duradoura e que influenciaria outros eventos que o Mestre Nelson e o Sheikh Tahnoon viriam a organizar.


Uma rivalidade entre dois estilos transbordou para fora da área de luta e resultou em um grande tumulto no evento. Com isso, o governo proibiu eventos de MMA por 10 anos no país, atrasando a sua expansão. O ocorrido também prejudicou as intenções do Sheik de investir no esporte no Brasil.


Durante o período que passou em Abu Dhabi, o Mestre Nelson fundou um clube local para treinar lutadores que desejavam praticar Jiu-Jitsu, batizando-o de Abu Dhabi Combat Club (ADCC), e atletas do mundo todo começaram a procurá-lo para treinar. Além disso, após o fiasco com o Pentagon Combat, o Sheik Tahnoon voltou as atenções para o seu próprio país. Sua vontade era organizar um evento de MMA nos Emirados Árabes, mas, infelizmente, seu pai achava a modalidade muito violenta e se opôs à ideia.


Pensando um pouco mais sobre o tema, eles decidiram organizar um evento de submission grappling, trazendo os melhores atletas do mundo para o torneio. O evento se chamaria ADCC, já que a organização estava sendo conduzida pelo clube do Mestre Nelson Monteiro.


O primeiro ADCC foi realizado em 1998 e se tornou um grande sucesso, contando com a participação de muitos dos melhores grapplers do mundo na época. Com isso, no ano seguinte, ainda mais atletas queriam participar e, rapidamente, o ADCC tornou-se um dos torneios mais importantes do mundo para atletas de Jiu-Jitsu.


Após quatro anos nos Emirados Árabes Unidos, o Mestre Nelson e sua família voltaram para o Brasil, onde passaram mais quatro anos antes de retornarem aos Estados Unidos. Lá, ele seguiu seu trabalho como instrutor na Gracie Barra.



O retorno para os EUA e o legado

O Mestre Nelson voltou aos Estados Unidos em 2005, retornando para a sua escola em Encinitas, Califórnia. Ainda nos seus anos de Emirados Árabes, por volta de 1996, ele já havia mudado o nome da sua escola para Gracie Barra. Com isso, aquela unidade tornou-se a primeira GB nos Estados Unidos, antes mesmo do Mestre Carlos Gracie Jr. inaugurar a sede em Lake Forest, CA, em 2005.


Quando conversamos com o Mestre Nelson neste mês, perguntamos o que a palavra “Legado” significava para ele. Sua resposta foi sobre a visão de crescimento do esporte. Ele relembrou sua jornada única, o início no Rio de Janeiro com sua passagem pela Barra da Tijuca e a mudança para Encinitas, nos EUA. Refletiu também sobre seu começo com a escola na garagem, a transferência para o endereço em Del Mar, sua ida para um palácio real e, finalmente, a criação do ADCC.


Esses vários anos de dedicação à GB, somados à sua visão de levar o Jiu-Jitsu para todos os cantos do mundo e a experiência única de conhecer e treinar o Sheik Tahnoon conduziu o Mestre Nelson por uma incrível aventura, expandindo enormemente as perspectivas de crescimento para o nosso esporte.


O Mestre Nelson reconhece que poderia falar por horas sobre suas experiências nos quatro anos de Abu Dhabi, e comentou que as pessoas dizem que ele poderia escrever um livro sobre todas as coisas incríveis que viveu durante esse tempo. Mas sua grande contribuição foi conseguir levar o Jiu-Jitsu para Abu Dhabi e, agora, podermos testemunhar tudo que Abu Dhabi fez com a nossa arte.


A globalização do Jiu-Jitsu

O verdadeiro legado da Gracie Barra está nas pessoas que conduzem nossa visão de crescimento. Um trabalho iniciado pelo mestre Carlos Gracie Jr. e que seus alunos ajudam a levar adiante, expandindo massivamente o Jiu-Jitsu pelo mundo.


Graças a esse processo de globalização, a verdade é que hoje temos um mundo ainda melhor para seguirmos evoluindo. As pessoas já podem viver da sua paixão, ganhando o sustento com o Jiu-Jitsu e colocando em prática seu estilo de vida. Hoje, aqueles que realmente amam a nossa arte podem fazer dela uma carreira profissional, tornando-se atletas, treinadores, donos de escolas, etc.


Assim, um dos legados do Mestre Carlos Gracie Jr. e da Gracie Barra é permitir que mais e mais pessoas consigam viver da sua verdadeira paixão.



Blog escrito originalmente em inglês por Dawn Korsen, faixa-marrom da Gracie Barra




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