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A Importância de Desenvolver e Aperfeiçoar Seu Próprio Jogo

E não se distrair com técnicas que talvez não combinem com ele



Como os praticantes de Jiu-Jitsu descobrem seu próprio jogo?


Se você ainda não sabe o que é o “jogo” de um atleta de Jiu-Jitsu, basta assistir a dois competidores em um torneio. Um pode vencer sua divisão puxando para a guarda e finalizando todos os adversários com o estrangulamento do triângulo, enquanto o outro atleta, do mesmo time, pode ser famoso pela qualidade das suas quedas e um jogo de alta pressão por cima. Mesmo sendo da mesma equipe, eles usam o Jiu-Jitsu de maneiras bem diferentes.


O Professor Paulinho Gomes tem algumas dicas e conselhos para alunos e alunas de Jiu-Jitsu que estão buscando desenvolver seu jogo pessoal. Ele também opina sobre o lado negativo de querer aprender alguns movimentos extravagantes que vemos nas redes sociais. Por fim, Paulinho nos explica por que as técnicas básicas são responsáveis pela maioria das finalizações entre os faixas-pretas nas competições.


O Professor Paulo Gomes treina Jiu-Jitsu há mais de duas décadas, tendo iniciado aos 13 anos de idade. Ele cresceu em Vitória, ES, e atualmente dá aulas na GB de Warrington, na região de Liverpool, Reino Unido.


Suas primeiras influências no Jiu-Jitsu foram os Professores Alexandre Café Dantas (confira a série de vídeos dele na GB Online) e Naborabner Punk, da Gracie Ipanema (uma afiliada da GB no início da Gracie Barra).


Como começar no Jiu-Jitsu da maneira certa

O Professor Paulinho dá muitas aulas particulares, além das sessões coletivas na GB Warrington.


“Nas aulas particulares, consigo ver mais de perto a evolução dos alunos. Gosto de conversar com eles sobre o que é mais confortável para o jogo de cada um”, comenta.


Ele começa fazendo uma pergunta simples aos seus novos alunos: “Como você prefere treinar?”


Dependendo da resposta (por exemplo, “Prefiro puxar para a guarda”) o Professor ajuda a traçar os primeiros passos para descobrir em qual posição aquele praticante se sentirá mais confortável no chão e, assim, desenvolver seu próprio jogo no Jiu-Jitsu.


A ideia por trás dessa abordagem é que, quando alguém está tendo seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu, ele ou ela encontrará as posições que fazem mais sentido ao seu estilo de forma natural. Este é o ponto de partida para começar a desenvolver seu jogo.


“Ótimo! Então, você fica confortável quando está de costas e puxa para a guarda. Vamos trabalhar mais nisso”, responderia o Professor Paulo para o aluno do exemplo acima.


O problema com as técnicas que vemos nas redes sociais

Em meio ao entusiasmo para aprender Jiu-Jitsu, muitos alunos acompanham canais nas redes sociais e ficam maravilhados com algumas técnicas avançadas e chamativas.


Então, vez ou outra, um aluno mostra alguma dessas técnicas para o Professor Paulo, querendo aprendê-la. “Olha que coisa incrível que eu vi no Instagram! Eu achei demais. Olha isso!”


Nessas horas, o Professor Paulo sorri e responde pacientemente: “Certo, mas essa posição faz parte do seu jogo? Ela faz sentido para o que você vem desenvolvendo?” Em muitos casos, a resposta é não.


O Professor, então, complementa: “Por que você iria querer essa posição no seu jogo? Sempre devemos tentar entender o PORQUÊ.”


“Menos é mais” e o problema da sobrecarga de informações

“No mundo do Jiu-Jitsu, temos momentos em que nos deparamos com MUITA informação. As pessoas podem estar aprendendo vinte a trinta posições por semana!” comenta o Professor Paulo.


E ele complementa: “Sou faixa-preta há mais de oito anos. Eu prefiro aprender e realmente entender UMA posição por mês!”


Ele faz uma pausa para refletirmos sobre sua colocação e prossegue: “E por quê? Porque se estou aprendendo um estrangulamento cruzado simples, quero saber aplicá-lo em todas as situações, seja na guarda fechada, na imobilização lateral, na montada por cima... Eu quero saber usar essa técnica em qualquer situação no Jiu-Jitsu. Saber usá-la para finalizar faixas-brancas, azuis, roxas e até os faixas-pretas.”


Diante da empolgação de um aluno com algum vídeo no Instagram, o Professor pergunta: “Quantos faixas-pretas você finalizou com essa posição na semana passada? Em quantas pessoas da sua faixa você aplicou esse movimento corretamente na última semana?”


Para ilustrar seu conceito sobre os diferentes níveis de compreensão, Paulinho usa como exemplo a técnica do armlock partindo da guarda fechada. “As pessoas não sabem usar o ataque da chave de braço (por completo).”


Logo após aprender o armlock da guarda fechada, o aluno já emenda: “Agora quero aprender o armlock voador!”


O Professor Paulo responde, balançando a cabeça:


“Espera... Você já sabe fazer a montada por cima e pelas costas? Já sabe fazer a transição do triângulo para a chave de braço? Sabe fazer a transição do armlock para a raspagem? Sabe aplicar a chave de braço partindo do joelho na barriga? Você já domina o armlock em todas as situações? Sabe usá-lo em TODAS as posições contra alguém do mesmo peso e faixa que você? Se a resposta for ‘Não, só contra um faixa-branca’, então você ainda não conhece a fundo a posição”, finaliza o Professor.


A importância de começar pelos fundamentos

Paulinho explica: “Eu comecei a treinar Jiu-Jitsu para defesa pessoal. Comecei aprendendo todos os movimentos da forma correta. Fazer uma ponte correta, as rolagens para frente e para trás, as fugas na defesa pessoal, a fuga de quadril da forma certa, etc. Eu aprendi o básico. Os fundamentos do Jiu-Jitsu.”




Então, o passo seguinte foi começar a treinar e entender com quais posições ele se saía melhor. Este é o caminho para identificar as técnicas que funcionarão em seu jogo e passar a desenvolvê-las.


O Professor Paulo dá mais um exemplo: “Durante o sparring, se o aluno sentir que prefere trabalhar por cima, precisará saber fazer uma queda, passar a guarda, uma imobilização lateral.”


E se ele pergunta sobre uma posição interessante, mas não relacionada ao que está sendo ensinado, o Professor explicará que, sim, pode ser uma boa posição, mas não é relevante para o jogo naquele momento.


Paulinho quer que seus alunos entendam que, ao encontrarem uma posição em que se sentem confortáveis, deverão saber conectar os movimentos. Como no exemplo acima, aprender a fazer a queda, a passagem da guarda por cima e, então, o controle da imobilização lateral. Você também deve aprender outras posições em sua sequência de sparring, relacionadas aos movimentos com os quais se sente mais confortável. Elas devem estar entre as suas prioridades.


Quantas técnicas você conhece e quantas sabe usar?


O Professor Paulo comenta que, como instrutor, conhece todas as técnicas do Currículo da GB. No entanto, ele separa aquelas que um praticante aprende e poderia demonstrar se seu professor lhe pedisse e aquelas que saberia realmente aplicar nos treinos contra um oponente do mesmo nível e oferecendo total resistência.


“No sparring contra um faixa-preta ou contra bons faixas-marrons, aplicar diversas posições é bem difícil, pois elas não fazem parte do meu jogo”, explica o Professor.


Para ilustrar seu raciocínio, ele usa como exemplo o Campeonato Europeu da IBJJF de 2023. O faixa-preta Kaynan Duarte conquistou sua categoria usando algumas posições que ele já havia aplicado em sua vitória de 2018.


“As mesmas técnicas em cinco lutas. E por quê? Porque o Kaynan tem o jogo dele e sabe utilizá-lo.” Ele conhece bem as suas posições mais fortes e segue utilizando-as nos torneios, ano após ano. E, sendo um atleta do mais alto nível, podemos imaginar que ele sabe e poderia demonstrar muitas outras técnicas que não utiliza nas competições.


Conhecendo suas qualidades e fraquezas

“Eu adoro a raspagem de omoplata, mas não me sinto confortável na posição da omoplata.”


O Professor Paulo explica que simplesmente não se sente confortável em manter a posição da chave de omoplata. Ao invés disso, ele prefere fazer a raspagem de omoplata imediatamente e partir para a posição por cima. “Não gosto do ataque da omoplata,” diz ele, “sei como ensiná-lo aos alunos, conheço o movimento, mas, normalmente, não o utilizo nas lutas. Eu prefiro atacar com a raspagem. Adoro essa posição.”


O Professor Paulo acredita que os alunos de Jiu-Jitsu devem descobrir não só em quais posições se sentem mais confortáveis, mas também COMO utilizá-las quando tiverem várias opções à disposição.


Jiu-Jitsu progressivo

Paulinho diz que, quando um aluno ou aluna faixa-branca está aprendendo uma posição específica, ele(a) deve pensar no que poderia acontecer em seguida na luta. Como aquela posição leva a um próximo movimento na sequência?


Ele orienta seus alunos a sempre pensarem: “E depois disso? E depois?”


“O Professor Café, meu instrutor, sempre me dizia, ‘Paulo: Jiu-Jitsu progressivo!’”


O Professor Paulo reforça a importância de treinarmos posições diferentes em sequência.

Por exemplo, praticar uma queda para a passagem de guarda e, então, para o ataque da imobilização lateral. Inclusive, ele nos passou o exemplo abaixo para uma semana de treinamento pensada na progressão das posições:


1- Queda de single-leg.

10 minutos de repetição

Em seguida, adicionar 70% de resistência

Terminar o treinamento em pé com 100% de intensidade


2- Passagem de guarda

Repetir sua passagem de guarda favorita com a dupla de treino


3- Controle por cima

Imobilização lateral por cima ou meia guarda por cima

Repetir seus melhores ataques da imobilização lateral


4- Na aula do dia seguinte: de novo, queda, passagem de guarda, e assim por diante. E na próxima semana? A mesma rotina.

5- Sem alterar a rotina, com diferentes passagens de guarda e mantendo as mesmas técnicas, você acumulará horas de experiência em suas melhores posições.



Lembre-se da famosa frase de Bruce Lee: “Eu não temo o homem que praticou 10 mil chutes uma vez, mas temo aquele que praticou o mesmo chute 10 mil vezes.”


Essa ideia reforça a importância de mantermos o foco na prática e buscarmos um alto nível de qualidade em um número seleto de técnicas, ao invés de termos conhecimento superficial de uma ampla variedade de movimentos.


O Professor Paulo diz que, conforme avançamos, naturalmente incluímos mais técnicas ao nosso arsenal, complementando nosso jogo e preenchendo eventuais lacunas.


Mantenha o foco no seu jogo

“Eu não vou ensinar meu aluno a passar a guarda hoje para, amanhã, ensiná-lo a reter a guarda, então, três dias depois, fazer um ataque do triângulo e, daqui a seis semanas, voltarmos à primeira queda”, explica. Esse aluno ou aluna certamente teria dificuldades em lembrar aquela primeira queda que aprendeu


Por isso, o Paulinho prefere seguir com um mesmo conjunto de técnicas por mais tempo e trabalhar na evolução do jogo do aluno.


O Professor Paulo sempre utiliza o Currículo da GB nas aulas da sua escola Gracie Barra, mas busca implementar o conceito de Jiu-Jitsu progressivo semana a semana.


“Se nessa semana vamos ensinar uma raspagem da guarda por baixo, eu também mostro duas ou três maneiras diferentes de puxar para a guarda. Afinal, se eu nunca mostrei essas posições para eles antes, como vamos treinar a guarda por baixo?


Por que as técnicas básicas funcionam com os faixas-pretas?

Quem assiste às divisões de faixa-marrom e preta em um torneio de alto nível poderia esperar algumas finalizações realmente insanas, com faixas-pretas sendo superados por técnicas que você nunca viu. No entanto, no fim das contas, você provavelmente se surpreenderá ao perceber que as finalizações foram com técnicas básicas, como um estrangulamento das costas.


Mas e aquelas transições sofisticadas e de várias etapas que vemos nas redes sociais?


Pois é, nada daquilo. Mas por quê?


O Professor Paulo tem uma explicação simples para esse fato aparentemente paradoxal. “Depois de aprender uma posição daquelas, quantas vezes você a colocará em prática?” indaga o Professor. “Talvez a faça de novo uma vez só daqui a duas semanas...”


Se você viu um movimento legal no seu feed, mas ele não faz parte das posições que você usa com mais regularidade no rola, provavelmente não o praticará com frequência suficiente para dominá-lo. Se você gosta do jogo por cima no seu Jiu-Jitsu, terá poucas oportunidades de entrar em um Berimbolo, por exemplo. Já as técnicas básicas são usadas com tanta frequência que é mais comum aprendermos a executá-las com alta qualidade.


Portanto, quando estiver montando o seu jogo, lembre-se de baseá-lo nos fundamentos. A partir daí, pratique as posições e finalizações com as quais você se sente mais confortável. Com o tempo, seu jogo vai evoluir e se converter em um plano de Jiu-Jitsu robusto e bem desenvolvido.


Blog escrito originalmente em inglês por Mark Mullen, faixa-preta da Gracie Barra





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